domingo, 25 de julho de 2010

Quinta-feira, dia 22 de julho de 2010



A CADERNETA VERMELHA
- O ano era 1972 em uma cidade qualquer neste mundão!!
- O carteiro estendeu o telegrama.
- José Roberto não agradeceu e enquanto abria o envelope, uma profunda ruga sulcou-lhe a testa.
- Uma expressão mais de surpresa do que de dor tomou-lhe conta do rosto.
Palavras breves e incisas:
- Seu pai faleceu. Enterro 18horas. Mamãe;
- Jose Roberto continuou parado, olhando para o vazio...
- Nenhuma lágrima lhe veio aos olhos nenhum aperto no coração.
Nada!
- Era como se houvesse morrido um estranho.
- Por que nada sentia pela morte do velho?
- Com um turbilhão de pensamentos confundido-o, avisou a esposa, tomou o ônibus e se foi, vencendo os silenciosos quilômetros de estrada enquanto a cabeça girava a mil.
- No íntimo, não queria ir ao funeral e, se estava indo era apenas para que a mãe não ficasse mais amargurada.
- Ela sabia que pai e filho não se davam bem.
- A coisa havia chegado ao final no dia em que, depois de mais uma chuva
de acusações, José Roberto havia feito as malas e partido prometendo nunca mais botar os pés naquela casa.
- Um emprego razoável, casamento, telefonemas à mãe pelo Natal, Ano Novo ou Páscoa...
- Ele havia se desligado da família não pensava no pai e a última coisa na vida que desejava na vida era ser parecido com ele.
- O velório: poucas pessoas...
- A mãe está lá, pálida, gelada, chorosa.
- Quando reviu o filho, as lágrimas correram silenciosas, foi um abraço de desesperado silêncio.
- Depois, ele viu o corpo sereno envolto por um lençol de rosas vermelho, como as que o pai gostava de cultivar.
- José Roberto não verteu uma única lágrima, o coração não pedia.
- Era como estar diante de um desconhecido um estranho, um...
- O funeral: o sabiá cantando, o sol se pondo.
- Ele ficou em casa com a mãe até a noite, beijou-a e prometeu que voltaria trazendo netos e esposa para conhecê-la.
- Agora, ele poderia voltar à casa, porque aquele que não o amava, não estava mais lá para dar-lhe conselhos ácidos nem para criticá-lo.
- Na hora da despedida a mãe colocou-lhe algo pequeno e retangular na mão;
- "Há mais tempo você poderia ter recebido isto" - disse.
- Mas, infelizmente só depois que ele se foi eu encontrei entre os guardados mais importantes...
- Foi um gesto mecânico que, minutos depois de começar a viagem, meteu a não no bolso e sentiu o presente.
- O foco mortiço da luz do bagageiro, revelou uma pequena caderneta de capa
vermelha.
- Abriu-a curioso. Páginas amareladas.
- Na primeira, no alto, reconheceu a caligrafia firme do pai:
- "Nasceu hoje o José Roberto.
- Quase quatro quilos! O meu primeiro filho, um garotão!
- Estou orgulhoso de ser o pai daquele que será a minha continuação na Terra!".
- À medida que folheava, devorando cada anotação, sentia um aperto na boca do estomago, mistura de dor e perplexidade, pois as imagens do passado ressurgiram firmes e atrevidas como se acabassem de acontecer!
"Hoje, meu filho foi para escola. Está um homenzinho! Quando eu vi ele de uniforme, fiquei emocionado e desejei-lhe um futuro cheio de sabedoria.
- A vida dele será diferente da minha, que não pude estudar por ter sido obrigado a ajudar meu pai.- Mas para meu filho desejo o melhor.- Não permitirei que a vida o castigue".
-Outra página;
"Roberto me pediu uma bicicleta, meu salário não dá, mas ele merece porque é estudioso e esforçado.
- Fiz um empréstimo que espero pagar com horas extras".
-José Roberto mordeu os lábios. Lembrava-se da sua intolerância,
das brigas feitas para ganhar a sonhada bicicleta. Se todos os amigos ricos tinham uma, por que ele também não poderia ter a sua?
"É duro para um pai castigar um filho e bem sei que ele poderá me odiar
por isso, Entretanto, devo educá-lo para seu próprio bem." Foi assim que aprendi a ser um homem honrado e esse é o único modo que sei de ensiná-lo".
- José Roberto fechou os olhos e viu toda a cena quando por causa de uma bebedeira, tinha ido para a cadeia e naquela noite, se o pai não tivesse aparecido para impedi-lo de ir ao baile com os amigos...
- Lembrava-se apenas do automóvel retorcido e manchado de sangue que tinha batido contra uma árvore... Parecia ouvir sinos, o choro da cidade inteira enquanto quatro caixões seguiam lugubremente para o cemitério.
- As páginas se sucediam com ora curtas, ora longas anotações, cheias das respostas que revelam o quanto, em silêncio e amargura, o pai o havia amado.
O "velho" escrevia de madrugada.
- Momento da solidão, num grito de silêncio, porque era desse jeito que ele era,
ninguém o havia ensinado a chorar e a dividir suas dores, o mundo esperava que fosse durão. Para que não o julgassem nem fraco e nem covarde.
- E, no entanto, agora José Roberto estava tendo a prova que, debaixo daquela fachada de fortaleza havia um coração tão terno e cheio de amor.
- A última página.
- Aquela do dia em que ele havia partido: - "Deus, o que fiz de errado para meu filho me odiar tanto? Por que sou considerado culpado, se nada fiz, senão tentar transformá-lo em um homem de bem?"
- "Meu Deus, não permita que esta injustiça me atormente para sempre."
- "Que um dia ele possa me compreender e perdoar por eu não ter sabido ser
o pai que ele merecia ter."
- Depois não havia mais anotações e as folhas em branco davam a idéia de que o pai tinha morrido naquele momento, José Roberto fechou depressa a caderneta, o peito doía. O coração parecia haver crescido tanto, que lutava para escapar pela boca.
- Nem viu o ônibus entrar na rodoviária, levantou aflito e saiu quase correndo porque precisava de ar puro para respirar!
- A aurora rompia no céu e mais um dia começava. "Honre seu pai para que os dias de sua velhice sejam tranqüilos!" - certa vez ele tinha ouvido essa frase e jamais havia refletido o na profundidade que ela continha.
- Em sua egocêntrica cegueira de adolescente, jamais havia parado para pensar em verdades mais profundas.
- Para ele, os pais eram descartáveis e sem valor como as embalagens que são atiradas ao lixo.
- Afinal, naqueles dias de pouca reflexão tudo era juventude, saúde, beleza,
musica, cor, alegria, despreocupação, vaidade.
- Afinal. Não era ele um semideus?
- Agora, porém, o tempo o havia envelhecido, fatigado e também tornado pai aquele falso herói.
- De repente. No jogo da vida, ele era o pai e seus atuais contestadores.
- Como não havia pensado nisso antes?
- Certamente por não ter tempo, pois andava muito ocupado com os negócios, a luta pela sobrevivência, a sede de passar fins de semana longe da cidade grande, vontade de mergulhar no silêncio sem precisar dialogar com os filhos.
- Ele jamais tivera a idéia de comprar uma cadernetinha de capa vermelha
para anotar uma frase sobre seus herdeiros, jamais lhe havia passado pela cabeça escrever que tinha orgulho daqueles que continuam o seu nome.
- Justamente ele, que se considerava o mais completo pai da Terra?
- Uma onda de vergonha quase o prostrou por terra numa derradeira lição de humildade.
- Quis gritar, erguer procurando agarrar o velho para sacudi-lo e abraçá-lo, encontrou apenas o vazio.
- Havia uma raquítica rosa vermelha num galho no jardim de uma casa, o sol acabava de nascer.
- Então, José Roberto acariciou as pétalas e lembrou-se da mãozona do pai podando, adubando e cuidando com amor.
- Então se pergunrou: Por que nunca tinha percebido tudo aquilo antes?
- Uma lágrima brotou como o orvalho, e erguendo os olhos para o céu dourado, de repente, sorriu e desabafou-se numa confissão aliviadora:
- Se Deus me mandasse escolher, eu juro que não queria ter tido outro pai que não fosse você velho!
- Obrigado por tanto amor, e me perdoe por haver sido tão cego."
"FALE, CURTA, ABRACE, BEIJE,
SINTA E AME TODAS AS PESSOAS COM QUE VOCÊ PODE VER E TOCAR"
APROVEITE A CONVIVÊNCIA COM OS SEUS familiares enquanto todos estão por aqui!

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